Do Fio à Fibra: A História do Orelhão e Como Ele Mudou a Comunicação no Brasil
- Zenilson Magalhães
- há 7 minutos
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Antes dos smartphones e das videochamadas, existia um símbolo colorido nas esquinas que conectava o país, o orelhão.

Quem viveu os anos 80 e 90 certamente lembra do som metálico da ficha caindo no orelhão. Hoje, ele é quase uma peça de museu esquecido, mas cheio de histórias. Antes da internet, dos aplicativos e das redes sociais, o orelhão foi o símbolo máximo da comunicação pública no Brasil, levando voz e saudade de ponta a ponta do país.
O nascimento do orelhão: uma ideia brasileira
O primeiro orelhão surgiu no final dos anos 70, fruto de uma criação genuinamente brasileira. O arquiteto Chico de Oliveira projetou o formato arredondado e colorido que lembrava um capacete espacial, com o objetivo de isolar o som externo e proteger o usuário da chuva.
A invenção virou sucesso instantâneo. Em pouco tempo, as ruas das grandes cidades se encheram de orelhões em tons de azul, laranja e amarelo. Era o início de uma era em que falar ao telefone público se tornava parte da rotina urbana.
A era das fichas e dos cartões telefônicos
Nos primeiros anos, o sistema funcionava com fichas metálicas, pequenas moedas com o logotipo da Telebrás ou da Telesp. Cada ficha representava alguns minutos de conversa e, não raro, as pessoas guardavam coleções delas para “não ficar na mão”.
Com o avanço da tecnologia e a popularização dos telefones públicos, as fichas deram lugar aos cartões telefônicos, lançados no final dos anos 80. Eles vinham com diferentes valores de crédito e se tornaram itens colecionáveis, com imagens de cidades, eventos esportivos e campanhas publicitárias.
O cartão era um símbolo de status, especialmente entre adolescentes. Trocar cartões era quase como trocar figurinhas.
Quando o orelhão era ponto de encontro e de saudade
Muito além da função prática, o orelhão foi cenário de histórias humanas. Serviu para paqueras rápidas, ligações de emergência, notícias boas e ruins. Havia uma certa poesia no gesto de ligar para alguém que morava longe, medindo o tempo da conversa e escolhendo as palavras com cuidado.
Em tempos sem mensagens instantâneas, o orelhão ensinava algo raro hoje: a paciência.
A queda e o silêncio das calçadas
Com a chegada dos celulares nos anos 2000, o número de orelhões começou a despencar. A manutenção ficou cara, o vandalismo aumentou e, aos poucos, eles foram se tornando obsoletos.
Em 2022, a Anatel declarou o fim da obrigatoriedade dos orelhões no Brasil, marcando oficialmente o encerramento de uma era. Alguns resistem até hoje, em ruas e praças, como monumentos de um tempo analógico.
O legado do orelhão: tecnologia e memória
Mais do que um telefone público, o orelhão representa a democratização da comunicação. Foi ele que garantiu, por décadas, que qualquer pessoa pudesse se conectar mesmo sem ter um telefone em casa.
Hoje, quando fazemos uma chamada por vídeo ou mandamos uma mensagem de voz, há um pouco do orelhão nessa história. Ele foi o primeiro passo da nossa jornada rumo à conectividade total.
Conclusão
Os orelhões estão sumindo, mas não da memória. Para quem viveu aquela época, cada ficha e cada ligação tem um valor sentimental imenso. E para as novas gerações, fica a curiosidade: como era viver num mundo onde conversar exigia sair de casa e procurar um telefone público?
Talvez o tempo mude os aparelhos, mas não o desejo humano de se conectar.
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